#2 - O LÍDER DA MATILHA | o custo da vida, das escolhas e das decisões.
As vezes ser o líder da matilha é muito cansativo.
Eu tenho o hábito de evitar conflitos, isso faz com que eu me adapte ao invés de lutar por aquilo que quero ou acredito, ou até mesmo dizer quando algo me chateou. Depois de um tempo descobri o quanto isso pode ser prejudicial. Eu evito conflitos até comigo mesma e isso as me leva a não ser sincera comigo mesma e não viver a realidade em muitos momentos.
Logo no início desse processo de adestramento da nossa matilha - o adestramento não foi só para os cachorros não, na verdade eu diria que foi muito mais para mim e para que eu mudasse muitas condutas minhas. Os cachorros por fim mais se adaptam, eles são o ponto mais fácil de mudar no adestramento - acredito que todos em casa mudamos um pouco, não só os cães, eu comecei a me impor, precisava me manter firme nas regras que havíamos criado e ao que seria mais saudável para a nossa vida e a convivência com nossos cães. Algumas dessas regras incluíam não deixar que nossos cachorros subissem no nosso colo ou invadissem nosso espaço físico sem nossa autorização (minha e do meu marido, humanos na casa) porque precisávamos que eles entendessem que estamos hierarquicamente acima deles e eles estão em nossa casa.
Essa pequena regra isolada parece muito simples, mas fazer isso constantemente estava ficando exaustivo. Eu gosto de cachorros e por mim estava tudo bem que invadissem meu espaço, mas era para o bem deles que eu precisava colocar esses limites, para que eles entendessem quem são na casa e não buscassem ser os líderes.
Depois de alguns dias eu estava exausta e no meio daquele cansaço cada tentativa de impor limites era frustrante. Parecia que eles não me ouviam e não me obedeciam, não estavam respeitando os limites que eu estava impondo. Me peguei muitas vezes pensando se valia a pena passar por isso, mas depois me lembrava do amor que tinha pelos nossos cães e principalmente pela minha família, e se isso seria o mais saudável para todos, era importante continuar.
Comecei a perceber que minhas palavras diziam uma coisa mas meu corpo e tom de voz diziam totalmente outra (vamos combinar que o cachorro entende muito mais tom de voz e linguagem corporal do que propriamente a palavra que estamos dizendo né?) depois de alguns dias comecei a identificar a postura adequada, fisicamente mesmo, que eu devia ter para que os cães entendessem a minha linguagem corporal, identifiquei também o tom de voz (mais ríspido e seco, o contrário da voz doce que sempre usei com eles quando não queria que fizessem algo) e também entendi que além de corpo e voz, meus olhos comunicavam, então precisei ajustar tudo isso para conseguir me comunicar melhor, para que eles entendessem o que eu estava dizendo.
Eu estava exteriormente me comportando como alguém que se impõe, que sabe exatamente o que quer e luta por aquilo! Mas cada vez que eu me vestia desta forma me lembrava que por dentro outra Katia gritava, ela tinha medo de tudo isso. Medo de tons ríspidos, medo de não agradar, medo de não ter seus braços abertos como acolhimento, mas sim apontando para ordens, mesmo que elas fossem necessárias. Eu queria mesmo era agradar meus cachorros.
Era uma luta interna. Extenuante!
Na primeira visita da adestradora à nossa casa expus o comportamento difícil de minha cachorrinha e identificamos que ele era resultado da falta de liderança (como já comentei no texto anterior). Após contar um pouco para ela sobre como minha cachorrinha e eu nos relacionávamos entendemos que na nossa relação, ela acredita que é minha líder e que eu não estava me impondo como líder dela.
A adestradora deixou claro que para eu estar em um papel de liderança eu preciso acreditar em mim, preciso acreditar e querer estar nessa posição. Preciso me ver como a pessoa adulta e responsável que já sou.
Levei um tempo digerindo aquela conversa. E depois de dias aplicando e mudando meu comportamento fui percebendo como era fundamental que eu ajustasse não só minha postura, mas que ela estivesse alinhada e ajustada com a minha mentalidade.
Acreditar em mim me fez mudar em diversas áreas, não poderia acontecer em apenas uma área da minha vida. Se eu for sincera, isso vai me mudar por completo.
É claro que isso acabou gerando também mais conflitos no inicio, nem sempre falar o que te desagrada é algo fácil, ainda mais quando você não esta acostumado a isso e não consegue se expressar direito. Aquilo era novo para mim. Mas lembrei que assim como eu identifiquei a melhor postura, olhar e tom de voz para me comunicar com meus cães, eu precisaria ter paciência para me ajustar e aprender a comunicar com meu marido e pessoas com quem me relaciono, principalmente quando se tratasse se algo que eu considerava conflitante ou que não estava acostumada a falar.
Até aqui tudo teve seu preço, ajustar minha postura quando me dirigia a meus cães, gerou uma dor nas costas, falar de forma ríspida doía aos meus próprios ouvidos. Mas foi o custo.
Cabia a mim a cada momento parar e avaliar se o preço que eu estava pagando não era caro demais. Sempre que me pegava fazendo essas contas eu lembrava que meu amor por aqueles era grande demais, e que essa escolha de adestrar a família, nossa matilha, era para nosso bem e valeria muito a pena quando todos estivéssemos bem naquele núcleo.
Mas alguma coisa ainda não estava bem digerida daquela conversa com a adestradora, parecia que ainda me faltava entender alguma coisa. Foi quando eu percebi e no momento que me dei conta, comecei a chorar e pensar que adestramento era muito mais difícil do que eu pensava. Percebi que ainda faltava eu tomar meu lugar em mim mesma.
Eu não acreditava em mim mesma, no meu potencial e nem na minha força de lutar por aquilo que acredito até o final. Eu não acreditava que conseguiria tomar minhas próprias decisões, eu se quer sabia o que eu realmente queria. Tinha me anulado para mim mesma. Eu precisava me ver como alguém importante e forte o suficiente para isso.
Não adiantava eu mudar minha postura para me comunicar com meus cães, aprender a me comunicar com meu marido e pessoas ao meu redor e não me considerar alguém merecedora de estar na liderança da minha própria vida. Era importante que eu acreditasse nisso, era fundamental.
Quantos momentos deixei de fazer algo por medo do que os outros fossem pensar, se aquela minha escolha seria ou não aceitável aos olhos de outras pessoas e então mudava de ideia por um simples medo e, assim, deixava que outros tomassem a decisão por mim. Consigo me lembrar de tantas vezes que me perguntaram se eu queria opção X ou Y e minha decisão não era tomada de acordo com a minha vontade, mas sim daquilo que eu achava que o outro gostaria.
Adestrar a matilha não é nenhuma tarefa simples, me fez olhar lá no fundo e entender que coisas valiosas tem um custo alto. Mas vale a pena pagar cada centavo.
Adestrar a matilha me exigiu alinhar minha postura, meu comportamento e a forma como eu mesma me via. É tanta coisa que precisa ser ajustada, é tanto trabalho que vai custar tanto tempo e energia, mas com certeza vale a pena!
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